A abertura de ‘Hotel’ à primeira vista: Interpretações

Ao mesmo tempo em que o tema de cada temporada é único, os créditos iniciais ganham roupagem nova a cada ano. Música, imagens e cores predominantes são modificadas para se casar com a atmosfera as diferentes propostas. As filmagens mostradas entre os nomes do elenco e dos criadores são simbólicas. Muitas vezes oferecem dicas sobre o que será abordado pela trama. Por isso quando a abertura de “Hotel” foi divulgada na tarde de hoje (1) é provável que boa parte dos fãs agarrou uma lupa pra analisar quadro a quadro (quem não viu, pode assistir aqui). E como vocês, leitores, a equipe do site não resistiu.

Claro, até que a temporada termine, tudo é subjetivo, nada mais que uma interpretação pessoal. Porém, o artigo reúne nossas impressões, descrições das imagens mostradas na abertura e apostas (e questionamentos) sobre o que elas podem significar. O texto contém não só teorias, como alguns spoilers.

VERMELHO DE SANGUE

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Tanto o produtor Ryan Murphy como atores já revelaram: se cada temporada tiver uma cor, ‘Hotel’ é vermelho, a coloração de sangue. Essa tonalidade domina a abertura, presente nos letreiros luminosos que anunciam os intérpretes principais e no imaginário sanguinolento. Não poderia ser diferente. Por mais que o criador negue que a trama trate de vampirismo, personagens como a Condessa Elizabeth (Lady Gaga), Donovan (Matt Bomer) e os filhos adotivos da dona do hotel consomem sangue. Eles sofrem de uma antiga doença que os tornam dependentes desse alimento.

Esse fluído corporal também escorre pelas paredes de corredores, esparrama-se pelo piso e tapetes. Além do quase vampirismo de algum dos personagens, isso é uma provável referência aos hábitos do fundador do Hotel Cortez. Na década de 1930, o milionário Mr. March (Evan Peters) derramou muito sangue alheio pelo prédio – ele gostava de matar e utilizava passagens secretas para ocultar cadáveres de suas vítimas. Na abertura, mulheres esfregam os vestígios como se tentassem limpar. Isso significa que a camareira interpretada por Mare Winningham ajudará seu patrão a esconder seus crimes? E os funcionários de Elizabeth farão o mesmo em relação a ela?

CRIANÇAS SOMBRIAS

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Outra imagem predominante nas sequências iniciais é a infância. Meninos loiros e pálidos espiam o telespectador pelos vãos de corrimão de escada, percorrem áreas do hotel, são revelados por rasgos de colchões. Um deles inclina a cabeça em direção ao corredor e é puxado enquanto sombras refletidas na parede parecem mostrar um adulto arrastando um garoto, no que pode ser uma ilusão a raptos. Como já foi revelado em entrevistas e vídeos promocionais, crianças serão significantes para a história.

A Condessa sequestra e adota garotos loiros a quem transmite sua doença. Alex (Chloë Sevigny) e John (Wes Bentley) têm um trauma envolvendo seu filho – a criança teria sido roubada pela Condessa? No passado, a personagem de Mare também viveu uma tragédia familiar, quando seu filho se tornou vítima de um serial killer pedófilo. O estilista Will Drake (Cheyenne Jackson) é acompanhado por seu filho, cujo destino ainda é desconhecido. A presença de personagens dessa faixa etária justifica o excesso de crianças na abertura. Vale ressaltar que algumas delas foram maquiadas com características que remetem a rugas e idosos, o que provavelmente indica que algumas das personagens infantis são mais velhas do que parece. Em outra passagem, um menino aparece com uma máscara, talvez denotando possíveis debilidades na saúde deles.<

SENSUALIDADE

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As pessoas que aparecem na sequência inicial se vestem e se movimentam de forma sensual. Algumas usam roupas íntimas. A série American Horror Story sempre é carregada de erotismo e neste ano tudo indica que o sexo terá bastante visibilidade – há promessas de orgia já no primeiro episódio.

Em um trecho da abertura, duas figuras femininas relaxam em um canapé enquanto se acariciam. Seus vestidos remetem a eras passadas. Quando o mesmo cenário é mostrado novamente, apenas uma delas continua lá. Agora é possível perceber seu rosto incomum. As feições são andróginas, o que pode indicar uma referência à Liz Taylor, travesti vivida por Denis O’Hare. No entanto, mais que isso, sua aparência é envelhecida como a de alguém que viveu séculos. Seria na verdade uma representação da Condessa Elizabeth? Sabemos que ela terá romances com homens e com mulheres. A sequência poderia remeter a seus encontros com uma amante em outra época. Se ela é uma pessoa antiga, quase que imortalizada como os vampiros, seus parceiros morrem e ela permanece. Será possível que sua aparência jovem seja uma ilusão? Seus amantes e ex-amantes como Donovan, Tristan (Finn Wittrock) e Ramona (Angela Bassett) estariam ameaçados?

OUTRAS APARIÇÕES

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Fora as crianças, todas as figuras humanas que aparecem têm aspecto feminino, ainda que ao contrário de “Coven”, existam um equilíbrio entre o número de atores e o de atrizes na quinta temporada. Outra aparição do gênero significante na abertura é uma mulher fantasmagórica de roupas e véu brancos. Seria uma espírito morto? Seria uma santa macabra? Seria uma noiva bizarra? Como ocorre com a criatura andrógina já citada, essa personagem da sequência de crédito é envelhecida, o que fica mais evidente quando a câmera se aproxima de seu corpo. Nessa cena de zoom, sua vestimenta é manchada por sangue, o que torna possível que ela seja mais uma referência à Condessa.

Os infames colchões estão espalhados por quase todas as imagens e vídeos de divulgação da temporada e também surgem na filmagem da abertura. Pessoas com pele morta, crianças e até a criatura andrógina envelhecida tentam se libertar deles. Segundo informações de revistas, a equipe do hotel teria o costume de punir hóspedes desagradáveis costurando-os no interior de colchões. Há ainda mulheres se maquiando e movimentando a cabeça de forma alucinada, talvez uma alusão aos efeitos do vício e aplicação de heroína por personagens como a Sally (Sarah Paulson). E um momento curioso: uma perna postiça pode ser vista em um dos cenários da abertura, o que levou fãs a relembrarem a história de Elsa Mars (Jessica Lange) e a se perguntar se algum personagem de “Hotel” sofrerá uma mutilação.

MANDAMENTOS E NOMES

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Os nomes do elenco não sãos as únicas palavras escritas do letreiro. O crédito é intercalado por citações bíblicas. Para ser mais precisa, as passagens que aparecem na abertura são os Dez Mandamentos, conjunto de regras judaico-cristãs que na trama de “Hotel” teriam inspirado um assassino, cujos crimes John investiga. Com este serial killer e com outros personagens homicidas, não é de se admirar que imagens de violência povoem os créditos.

Curiosamente, os mandamentos são numerados na abertura, porém aparecem fora de ordem. Veja como eles se intercalam com o nome do elenco e da temporada. Repare que alguns nomes (marcados com asterisco abaixo) têm luz trêmula, enquanto que outros não piscam nem brevemente

“Kathy Bates*
Sarah Paulson
No. 5 – Honra a teu pai e tua mãe
Evan Peters
Wes Bentley*
Matt Bomer
No. 3 – Não tomarás o nome do teu Senhor em vão
Chloë Sevigny*
No. 6 – Não matarás
No. 4 – Lembra-te do dia do sábado, para o santificar
Denis O’Hare*
No. 9 – Não dirás falso testemunho
No. 10 – Não cobiçarás
Cheyenne Jackson*
No. 8 – Não furtarás
com Angela Bassett
No. 7 – Não cometerás adultério
E Lady Gaga
No. 1 – Não adorará outros deuses além de Mim
criado por Ryan Murphy e Brad Falchuk
No. 2 – Não farás para ti imagem de escultura
American Horror Story: Hotel”

Surgem mais suposições. A ordem em que aparecem os mandamentos na abertura revelaria a ordem em que são cometidos os assassinatos? Os crimes seriam inspirados pelas ordens divinas e as vítimas seriam arranjadas de forma a remeter a cada uma das regras? A proximidade entre mandamento e o nome do ator revelará algo sobre seu personagem? Os nomes que piscam seriam o dos intérpretes dos personagens menos malignos (ou o contrário, ou ainda sinalizariam morte e sobrevivência)?Ainda em relação ao letreiro, os nomes de Finn Wittrock e Mare Winningham não aparecem nos créditos, embora estejam estampados nos pôsteres com a lista do elenco. Isso indicaria uma participação curta, ou uma morte prematura de seus personagens. Ou seria irrelevante, afinal, Frances Conroy quando interpretou a icônica Moira da primeira temporada também ficou fora da abertura? (E uma possível piada: o fato de o mandamento sobre não adorar outros deuses ser rapidamente seguido pelo nome dos criadores do seriado seria uma brincadeira megalomaníaca de Ryan e Brad?).

Como dito antes, essas são interpretações. Por isso, leitores, sintam-se a vontade a partilhar suas impressões e análises da abertura, comente e contem suas teorias.

Por Rafaela Tavares em 02 de October de 2015