Denis O’Hare fala sobre a sangrenta história de amor de Liz Taylor

Pergunte a qualquer fã desta temporada de American Horror Story e eles lhe dirão quem é a verdadeira dona do Hotel Cortez — e não, não é a Condessa de Lady Gaga, mesmo que ela certamente mereça o prêmio de “Maior Número de Ex-Parceiros Vampiros Desapontados.” Ao invés dela, falamos da sensível e cheia de vida bartender, Liz Taylor, interpretada por Denis O’Hare. Ela já conquistou o público de AHS com suas afiadas frases, sua boa alma e sua emocionante jornada de aceitação.

De qualquer maneira, o último episódio, “Room 33,” vai mudar as coisas para Liz — que é uma transgênera — desde que a Condessa pôs um ponto final na relação entre elas duas quando matou brutalmente o primeiro e único amor de Liz, Tristan (Finn Wittrock). A MTV News conversou no telefone com Denis depois deste episódio, para discutir o que há em seguida para Liz, a reação dos fãs sobre as personagem, e sobre Gaga:

MTV: Eu sei que você está nas redes sociais, então você já notou a reação entusiasmada dos fãs para a personagem?

Denis O’Hare: Já percebi! Sabe, é surpreendente pois você nunca sabe qual será a reação das pessoas, e eu estou muito alegre por isso, e eu vou tentar manter essa perspectiva.

MTV: Liz realmente emergiu dentro do âmbito emocional da série, o que eu acho que foi surpreendente para muitas pessoas. Como você acha que ela se mantem tão relacionável com o público, mesmo que ela tenha amizade com assassinos?

O’Hare: Eu acho que ela é uma pessoa sem papas na língua. No começo, Ryan [Murphy] e eu falamos sobre a cena no elevador onde ela conhece John Lowe e fala que ela perdeu algo, não pode avançar e nem retornar. Ela é um tipo de personagem que ganha autoridade moral através de momentos difíceis e dolorosos. Ela é honesta. Ela já passou por muitas merdas na vida e continua a lidar com aquilo; ela pode tornar antipática e ficar com a língua afiada, ou pode tornar-se uma pessoa sábia, e tentar conduzir outras pessoas durante momentos desesperadores. E ela faz isso de forma rabugenta, até mesmo cruel, pois ela não tem medo de dizer a verdade, e o seu propósito é salvar pessoas de fazerem péssimas escolhas.

MTV: Mas ainda assim ela deixa as pessoas serem assassinadas no Cortez. 

O’Hare: Sim, eu acho que existe um certo nível que negação que ela aceita, para poder fazer o seu trabalho. Parte da função dela é “não perguntar e não dizer”. Literalmente, se eu não vejo não está acontecendo. Ela senta na recepção com livros cobrindo o rosto, e fica com um olho para cima e o outro para baixo. Em nenhum momento ela está preocupada em o que deve fazer. E quando ela pode, ela tenta intervir, mas certamente jamais arriscaria a própria vida.

A parte engraçada das vítimas do hotel é que eles terminam tendo um lado irritante, então como a audiência, você meio que pensa… [com] o casal hipster, você não deveria matá-los, mas eles são bem irritantes. Quando você pede alface grelhada, vamos lá, é hora de partir.

MTV: Tem sido um ano grandioso para a representação de pessoas trans na televisão. Sendo assim, houveram muitas conversas na sala dos escritores sobre tornar Liz um personagem que o público goste?

O’Hare: Na verdade, não, o que é interessante. Ryan é interessante pois ele confia em seus atores — ele nos conhece, nos o conhecemos. Existe um certo nível de responsabilidade que ele nos dá com os nossos personagens, então nós não temos nenhuma conversa sobre isso. Não existe pressão para tornar o personagem legal ou não, o que eu sinto que é realmente importante é que o nossos personagens tenham a sua integridade.

É interessante, pois de outro lado, Liz está indo experimentar novas emoções. Nós a vamos ver deprimida, surtando, desesperada. Nem todas essas emoções serão bonitas, então veremos se a audiência continuará do lado dela.

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MTV: Sim, é “AHS”, então você nunca sabe.

O’Hare: Tipo, e todo esse assunto sobre os problemas de pessoas transgêneras é — e eu acho que é legal — que Ryan está dando uma grande importância a respeito. Existe um personagem que está nesta condição — ela apenas, ela está numa jornada, e vemos sua história de origem que é fantástica — mas quando nós mostramos a origem dela e a estabelecemos, nós seguimos em frente. Não é apenas sobre ser transgênera, é sobre ser uma criatura humana que tem seus desejos e experiências, e ela encontra amor e então o perde, e isso é algo que todo mundo já enfrentou.

MTV: Como foi gravar aquela cena de amor juntos? Acho que o Finn é o ator que mais aparece nu em toda a história da série.

O’Hare: Teve um momento em que o Finn está levantando da cama e, você sabe, ele mostra o traseiro. Eu, como qualquer outro ator, naturalmente me virei. Sou gay, mas quis dar ao Finn certa privacidade, e o respeito de não ficar olhando para ele. Então me virei e comecei a ler um livro. Esta foi a primeira tomada e eu pensei, “O que eu estou fazendo? Liz jamais viraria a cara! Ela olharia e pensaria,  ‘Isso é meu, baby!’”

Na tomada seguinte, eu olhei. Mas essa é uma coisa estranha, quando está gravando às vezes você é duas coisas: um ser humano, que é uma pessoa que conhece a outra pessoa… mas aí você também é o personagem, e eu passei por isso e pensei nas tomadas seguintes, “ah não, eu preciso olhar para ele, eu preciso olhar para ele”.

MTV: E aqueles intensos momentos finais com Finn e Gaga?

O’Hare: Na realidade foi muito, muito difícil – aquilo durou uns dois dias, foi emocionalmente desgastante. Stefani é uma atriz maravilhosa. Ela está se descobrindo nisso, e ela estava bastante conflituosa sobre isso, porque ela sente que não quer que a Condessa seja uma vilã simples. Ela tem suas razões, então estava inclinando-se à ideia de que foi traída por duas pessoas que ela criou e amava, e o que ela poderia fazer?

Ela realmente conseguiu mostrar isso, e mesmo nos últimos momentos, quando ela diz “Ok, você pode ficar com ele”, antes de mata-lo, nós temos uma delicada estrada de três vias… aí isso tudo vira aquela garganta cortada. Foi um momento horrível, minha cabeça ficou girando depois, e ficou doendo por uns dois dias. Isso raramente acontece comigo, eu fiquei realmente triste, e eu não sou este tipo de ator. Eu costumo ter os dois pés bem presos na realidade, mas este personagem é muito, muito intenso para mim. No dia seguinte eu achei que estava meio que num lugar muito ruim, e muito, muito depressivo, e eu me peguei ligando várias vezes para casa, para falar com meu marido e meu filho, e me manter ligado a eles.

… É estranho, há uma espécie real de vazio que você tem quando filma algo assim. O que considero mais importante sobre aquela cena é que ela prova o valor da vida, e como a morte não é fácil. Ver um personagem morrer e como isso afeta terrivelmente a vida de outra pessoa mostra como a violência não tem sentido.

MTV: Ele deve voltar? Vampiros podem virar fantasmas?

O’Hare: Sabe, esta é uma boa pergunta, a qual eu não tenho resposta ainda. Eu mesmo amaria saber isso! Boa pergunta!

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MTV: Entendi. Bom, a Condessa fez a Liz, e agora destruiu a única coisa que Liz amou de verdade. Como isso vai mudar a dinâmica entre elas no futuro?

O’Hare: Sabe, eu acho que as coisas vão ficar tensas. Definitivamente vai acontecer alguma coisa. Eu tenho algumas cenas com ela onde Liz parece estar meio que farta. Ela está implicando mais, está menos paciente, e ela apenas… não se importa com mais nada. Estamos filmando o episódio 10 agora, tem umas coisas muito, muito intensas nele. É ‘American Horror Story”. Fiquem ligados!

MTV: Você fez quatro temporadas de AHS até agora. Há alguma diferença entre o elenco “liderado pela Jéssica Lange” e o “liderado pela Lady Gaga”?

O’Hare: Acredito que a principal diferença é que nós não sentimos necessariamente como se estivéssemos sendo liderados pela Lady Gaga, mas sim que, este ano, nos sentimos mais como uma equipe, e isso não é culpa de ninguém! Me parece que é apenas como esta temporada foi escrita, mas definitivamente sente-se como se ela estivesse melhor distribuída, e isso é um pouco diferente. Outra grande diferença é que estamos de volta a Los Angeles – nós estivemos na Louisiana nos últimos dois anos, e lá não é o lar de nenhum de nós. L.A. também não é minha casa, mas pelo menos tenho vários amigos aqui, então é ótimo estar aqui, próximo do Ryan e dos roteiristas. Eu sinto que nós dialogamos mais, quando estávamos na Louisiana sentíamos como se tivéssemos sido abandonados, as crianças esquecidas.

MTV: E por último – Eu sei que você esteve na insana festa na piscina que Stefani deu. Nem Finn ou Cheyenne quiseram me dizer qual foi o último membro do elenco a sair da festa. Espero que você me diga.

O’Hare: Olha só, não vou ignorar esta pergunta, mas digamos que eu sou do time que saiu cedo da festa, então eu não vou saber te responder. Eu sei que Kathy [Bates] foi embora cedo, Angela [Bassett] ganhou um bolo de aniversário, e aquilo foi muito maluco. Eu sei que Ryan e Evan [Peters] estavam se divertindo muito, rindo alto, e eu sei que o Finn também estava se divertindo bastante. Então, não sei, não sei quem foi o último, isso é tudo o que vou dizer. Eu até dei carona para o Evan [Peters] e para a Emma [Roberts], então eu pelo menos sei que eles não foram os últimos.

Tradução por Aline Schmidt e Gabriel Fernandes. 

Por Gabriel Fernandes em 16 de November de 2015

"Tu fui, ego eris". Arquiteto e urbanista, ilustrador independente, colecionador de mangás e grande apreciador do gênero terror em filmes, séries e jogos.