Sarah Paulson fala sobre a pressão em ser uma ativista LGBT e Jessica Lange em entrevista ao Pride Source

Em recente entrevista ao Pride SourceSarah Paulson fala sobre sua vida pública a respeito de sua sexualidade, o filme Carol e sobre American Horror Story.

PRIDE SOURCE: O que você pensa sobre sua “saída do armário” acidental?

SARAH: Eu era muito jovem, e estava apaixonada. Era a realidade da pessoa com quem eu estava. Ela havia acabado de ganhar um Tony Award – eu não vou lhe dar tapinhas nas costas, lhe dar um joinha e dizer, “Vá lá e pegue o seu prêmio, querida.” Não foi um pensamento consciente. Eu nem pensei nas implicações que aquilo traria. Eu só fiz o que eu achei que seria honesto e verdadeiro naquele momento para mim.

A verdade é, era cedo o suficiente na minha carreira para não ter barreiras para mim como uma atriz. Eu acho que a coisa que torna isso mais fácil em relação a não ter ramificações, é que eu sou uma atriz que faz papeis incomuns – ninguém está assinando um tipo sexual para mim, eu acho. Talvez isso não seja verdade (risos). Mas parece que se você é conhecida por ser um símbolo sexual e se torna uma atriz femme fatale, e então do nada você faz anúncio sobre sua sexualidade, se torna uma grande notícia. Eu sou uma atriz que faz papeis incomuns; posso fazer várias coisas. Eu não acho que ninguém fez associações a meu respeito que faria alguém dizer, “Bem, eu não consigo enxergá-la desta maneira agora.”

Você parece por sua carreira na frente de sua vida pessoal.

Eu acho mesmo que é mais importante, eu sei que Matt Damon recebeu várias críticas a respeito do jeito que ele falou aquelas coisas (no começo do ano, ele disse: “As pessoas não deveriam saber nada a respeito de sua sexualidade pois é um dos mistérios sobre o qual você deve brincar.”), mas o sentimento é verdadeiro: minha vida pessoal… Eu não vou esconder de você, mas eu também não quero que você pense nisso antes de você pensar no personagem que estou interpretando. E eu quero que aquilo seja a importância absoluta – é absolutamente importante para mim que você acredite na história que eu estou tentando lhe contar, e se minha vida pessoal está entrando na frente disso, eu não gosto nem um pouco.

Você é estratégica, então, sobre o que revela para o público?

A coisa com Cherry (Jones) foi bem acidental. E, novamente, eu era muito jovem. Se isso acontecesse comigo agora, eu não sei o que eu necessariamente faria. Realmente não sei. Acho que o que eu gostaria de pensar é que eu apenas seria eu mesma com quem eu estivesse, se eu tivesse ganhado um prêmio ou eles tivessem ganhado algo ou se fosse algo público, eu não faria algo simplesmente porque estava com medo de me revelar. Não acho que seria uma escolha que eu faria. Mas acho que foi um pouco duro, porque quando terminamos (em 2009) houveram algumas declarações feitas por ela, acho que de forma acidental, que acabaram me machucando, então eu venho sendo muito cuidadosa sobre o que estou disposta a falar. Então, não é estratégico, é apenas experiência de vida. Eu aprendi lições, e desde então venho me comportando de formas diferentes, e não como se eu estivesse nervosa ou que não acho que são boas. Mas, como para Therese em ‘Carol’, você vive, aprende, se volta para você mesma e começa a ser responsável pelo seu poder e escolhas e sobre o que está disposta a revelar. No final do dia, eu coloco o bastante de mim em frente às câmeras quando estou atuando, dando tanto de mim quanto é possível – eu não tenho que dar tudo para ninguém.

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Você tem sido tão verdadeira sobre sexualidade desde quando você “saiu do armário” intencionalmente em 2005. Como você acha que tornou-se um pilar para a comunidade LGBT?

Porque eu me recuso a dar qualquer tipo de rótulo apenas para satisfazer as vontades dos outros. Eu compreendo que todos queiram ter uma pessoa para se inspirar que está se moldando ao redor deste problema, e eu compreendo que para pessoas jovens estejam se revelando aos poucos, eles querem ter como base uma pessoa em particular, mas eu acho que isso é a parte mais importante para mim.

Tudo o que eu posso dizer é, eu já passei por isso, e eu não deixo esta experiência me definir. Eu não me deixo pensar que ficar com um homem me torne hétero, ou que me faça chamar-me disso, pois eu sei que tenho atração por mulheres – e já vivi com mulheres. Então, para mim, eu não estou me privando de definições, e me desculpe se isso é algo que pareça ser rejeição ou falta de vontade de abraçar (minha sexualidade) de maneira público, mas não é simplesmente isso. É somente o que é real para mim, e é tudo o que eu posso falar a respeito.

Eu não posso falar sobre como a experiência de alguém sobre isso funciona para eles ou como eles chegaram onde estão ou onde fica a zona de conforto deles. Eu não quero isso de ninguém, e nem gostaria de que as pessoas perguntassem isso para mim. Não é porque sou uma pessoa pública de certa forma, que eu tenho uma responsabilidade de lhe dizer algo simplesmente porque você pensa que eu deveria.

Você acha que há pressão em celebridades LGBT para serem ativistas?

Eu acho, e eu acho também que as vezes as pessoa dentro da comunidade são tipo, “Você tem uma responsabilidade nisso – pessoas jovens precisam de vozes, nós precisamos de vozes, precisamos que as pessoas vejam isso.” E eu não entendo. Mas a minha realidade é bem diferente da sua realidade. Eu tive experiências diferentes. Eu posso encontrar um homem amanhã, me apaixonar por ele e me casar com ele, e isso não diminuiria nenhuma das experiências que eu tive com mulheres, ou vice-versa. Eu só não acho que ninguém pode me dizer o que eu tenho que fazer. Eu entendo a intenção, e é por isso que eu não me escondo. Eu não finjo que isso não é verdade. Eu apenas sou honesta sobre o que é verdadeiro para mim, esse tipo de coisa meio que coexiste.

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Vamos falar sobre “American Horror Story: Hotel”, onde você atualmente é protagonista. E você está na série desde o início, em 2011. Você pretende ficar até o final?

Se eles me aceitarem. Eles terão que me tirar daqui aos berros e chutes. Será a 720° temporada de “American Horror Story” e eu serei uma anciã de 80 anos dizendo, “Este é o melhor trabalho do mundo!”. Eu estarei aqui enquanto eles me quiserem, sem duvidas!

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Como é não ter a Jessica Lange por perto pela primeira vez, nesta temporada?

Nós somos amigas há bastante tempo. Fizemos “Glass Menagerie” juntas na Broadway em 2005, e eu só estou na série, na verdade, por causa da Jéssica. Eu estava num jantar do Project Angel Food, onde Jéssica estava entregando um prêmio para alguém e (o criador da série) Ryan (Murphy) também estava lá, e eu ia fazer uma peça de teatro em New York, que acabou não dando certo, então acabei ficando na cidade. Então Jessica chegou no Ryan e disse “Você não poderia encontrar algum papel para a Sarah na série?”, e Ryan, com quem eu já havia trabalhado antes, disse, “Ah, sim! Na realidade, eu acho que tenho alguma coisa em mente”, e era a Billy Dean, a psíquica. Eu a interpretei, e foi assim que tudo começou. Então, eu sou grata à Jessica por muitas coisas, incluindo minha participação em American Horror Story.

Nós sempre compartilhamos um trailer. Basicamente, têm estes trailers com reboque, e todo membro do elenco tem alguém do outro lado da parede. Comigo foi a Jéssica por três anos seguidos. Agora eu divido com a Kathy, e isso é maravilhoso porque eu amo ter um pouco de Kathy Bates para mim, mas minha história com a Jessica é antiga, então sinto falta de tê-la por perto, pois ela era minha amiga – ela é minha amiga. Esta parte não foi divertida, mas acredito que Lady Gaga esteja trazendo um novo maravilhoso tipo de energia para a série – apenas diferente. Não melhor, mas diferente, e acho isso maravilhoso!

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Tradução por Aline Schmidt e Gabriel Fernandes. 

Por Gabriel Fernandes em 23 de November de 2015

"Tu fui, ego eris". Arquiteto e urbanista, ilustrador independente, colecionador de mangás e grande apreciador do gênero terror em filmes, séries e jogos.