A cultura do cancelamento em ‘The Naughty List’, 4º episódio de ‘AHStories’

Existe algo macabro a respeito da perversão de ícones que representam pureza e a inocência da infância, mesmo que sejam através da “representação real” de um Papai Noel, ou uma pessoa instável que escolheu esconder-se através dessa figura. Histórias de Papai Noel assassinos representam uma premissa de horror tipo B simples, sinistra e que possui um grande potencial de entretenimento, não precisando ser descontruída além do ponto, e ainda, American Horror Stories escolhe mesclar esta alegoria com o tópico dos influencers de redes sociais.

As vezes, a audiência-alvo millennial que Ryan Murphy parece ser tão incisivo em querer alcançar com este spin-off pode ser frustrante, mas a trama de “The Naughty List” utiliza deste tópico e encontra uma história de horror que poderia ser no mínimo relevante ao explorar o meio tóxico presente entre a vida de influencers. Porém, o resultado é uma história que quase imediatamente parece bastante dispensável, ao invés de nos trazer algo com uma metáfora social persistente.

American Horror Stories" The Naughty List (TV Episode 2021) - IMDb

A primeira metade do episódio é bem desgastante e nada relevante é dito a respeito da cultura de cancelamento em comparação a tramas de outros seriados ou filmes que conseguiram trazer este tópico à tona de forma mais eloquente. Chega a ser um desapontamento notar que este episódio parece ficar confortável com o nível raso de aprofundamento do tema em questão, e no máximo apenas prepara a audiência para deixá-la cada vez mais ansiosa pelo momento em que os protagonistas idiotas serão mortos. Nos trazendo lembranças de Scream Queens, a trama tenta engajar com a audiência ao fazer piada da cultura dos influencers e termina indo numa direção cômica e “divertida”.

A forma como o episódio nos introduz ao personagem de Danny Trejo é intrigante. Ele é, na verdade, um serial killer que tomou o lugar de um Papai Noel e agora está motivado para exterminar todos os influencers idiotas que arruinaram o Natal de várias crianças no shopping. Um motivo simples e justo, para dizer o mínimo. E assim como a performance de John Carroll Lynch foi um ponto alto em “Drive-In“, este é o tipo de papel onde você nota que o ator está se divertindo. Após acostumar-se com o clima do episódio e finalmente chegar no clímax, não resta alternativa a não ser divertir-se com Danny nos trazendo a famosa risada natalina enquanto executa a todos na casa. Entretanto, já tornou-se notável que American Horror Stories ainda tropeça em trazer algo único para estes momentos de matança, mesmo que tragam conceitos interessantes, suas execuções terminam sendo decepcionantes.

O quarto episódio de American Horror Stories foi diferente de tudo o que já vimos nessa temporada até agora e nos entrega um pouco de comentário social a respeito da cultura das redes sociais. Mesmo que exista a decisão de mascarar as partes que poderiam ser mais sérias com humor, talvez a comédia tenha feito este episódio satírico um pouco mais… Degustável. Uma pena notar que “The Naughty List” utiliza uma alegoria de horror com tanto potencial, mas termina encontrando os mesmos problemas de narrativa que o spin-off sofreu em outros episódios, parecendo repetitivo mesmo tendo apenas 37 minutos de duração. Todos os episódios anteriores tiveram seus momentos fortes, mas apenas poucos minutos de matança com Danny Trejo não são suficientes para salvar este.

Por Gabriel Fernandes em 09 de August de 2021

"Tu fui, ego eris". Arquiteto e urbanista, ilustrador independente, colecionador de mangás e grande apreciador do gênero terror em filmes, séries e jogos.