Ryan Murphy e Brad Falchuk, co-criadores de American Horror Story, marcaram uma grande mudança para o estilo dos seriados de horror na televisão e são os responsáveis pelo retorno massivo do estilo antológico de se contar histórias. Sempre beirando o assustador e o sarcástico em seus roteiros, a dupla agora nos entrega uma antologia episódica com American Horror Stories, uma investida no horror curto e direto, e talvez, uma tentativa de resolver alguns problemas que a franquia original vem sofrendo por alguns anos, como a capacidade de sustentar uma trama por uma temporada inteira e manter um ritmo consistente do começo ao fim. O resultado final temos aqui, uma première dupla com “Rubber(wo)Man“, Parte 1 e 2 — uma história que começa interessante e promissora, mas possui um final no mínimo desleixado.
A Parte Um nos atrai para o debate das diferenças entre medo e vergonha, onde os dois são sentimentos que inibem um indivíduo de ser quem é de fato. A maioria dos personagens criados por Ryan Murphy possuem histórias ligadas a vergonha de certa forma, o que torna este um tema interessante para se tratar no episódio de abertura. Tema este que é a força motriz que Scarlett (Sierra McCormick) vivencia regularmente através de ideais masoquistas onde a mesma possui devaneios onde experencia sexo, violência e humilhação num mesmo momento, e a apresentação da roupa de borracha para a jovem adolescente torna-se o passo inicial para um processo de auto aceitação. O Homem de Borracha/Rubberman é uma figura icônica dentro do universo desta franquia de horror, um símbolo despudorado e sombrio da agressividade, e por ser um antagonista do primeiro ano da série, o retorno deste junto de trilhas sonoras que se relacionam a sua presença, como “Twisted Nerve” e “Tonight You Belong to Me”, nos trazem um contexto obscuro e nostálgico, nos lembrando dos primeiros passos de American Horror Story.
A atriz Sierra McCormick, sendo o centro desses dois episódios, é bastante cativante. A transformação de Scarlett nos lembra um pouco do seriado Dexter, e se Stories tem o objetivo de expandir futuramente as histórias contadas dentro desta nova franquia, então Scarlett é um novo tópico muito bem-vindo a ser revisitado eventualmente. Por mais que não sejam personagens dispensáveis, o drama conjugal dos personagens de Matt Bomer e Gavin Creel não é nada além de um distração para o arco mais interessante de Scarlett. A relação dos dois implode um tanto previsivelmente e isso faz a trama parecer que está dando alguns passos para trás.
A Parte Dois traz uma certa instabilidade na trama, atrapalhando os elementos sombrios, como AHS já tende a fazer naturalmente, extrapolando as próprias regras do seu universo, tornando banais e sem ritmo algum os elementos que deveriam chocar e assustar. É sempre um desafio equilibrar horror e humor e esta franquia tem, com o passar dos anos, confiado muito mais no aspecto irônico e sarcástico como uma forma de amenizar a ansiedade e o medo da audiência e, infelizmente, Stories tende a passar do ponto ao utilizar este recurso. Histórias de horror podem certamente ter finais com momentos de redenção e “finais felizes” para seus protagonistas, mas a representação de Scarlett e sua nova namorada fantasma (Kaia Gerber) como um par de super-heroínas psicóticas parece mais uma comédia, e duvido muito que tenha sido esta a intenção dos roteiristas. A chegada de Ruby no segundo episódio parece abrupta e enquanto divide cenas com a presença magnética de Sierra, Kaia tem uma atuação que parece cada vez mais contida e tímida.
“Rubber(wo)Man” é uma estreia que pode agradar alguns fãs da série principal, mas não oferece ainda o suficiente para mostrar a versatilidade do conceito que American Horror Stories quer trazer, e assim, se diferenciar de suas origens. É uma mistura do obscuro e estúpido, com os aspectos mais tolos fazendo com que os elementos mais sombrios pareçam banais e descartáveis. O retorno ao universo de American Horror Story faz parte do apelo deste spin-off, porém, esse retorno à Murder House poderia ter sido mais eficaz como forma de encerrar a primeira temporada de American Horror Stories. Os fãs de longa data podem ficar animados para começar a temporada de volta as raízes da Murder House, especialmente com dois episódios, mas os espectadores mais céticos precisarão esperar mais algumas semanas para obter uma compreensão adequada sobre o que American Horror Stories pode realizar com este novo formato.