A tensão do silêncio em ‘Feral’, sexto episódio de ‘AHStories’

American Horror Stories já aproveitou de várias premissas populares de obras de horror para sua temporada de estreia, então, um episódio locado na natureza selvagem parece ser apropriado. Com isto, obras de horror deste tipo tornaram-se um subgênero um tanto variado que cobrem quase tudo. Existe uma ameaça natural que fica presente dentro destes tipos de locações, que é frequentemente explorada por campistas e guardas florestais, mas sabemos pouco a respeito.

A trama possui um ritmo soturno que flutua entre a tensão do silêncio e imagens perturbadoras que rapidamente nos lembra o filme Canibais. “Feral” é um episódio de American Horror Stories que abraça todo o seu poder imagético e temática metafórica presente na sua trama. A audiência nunca recebe um momento para ficar confortável, até chegar no momento final da história, onde descobrimos toda a teoria da conspiração a respeito de comunidades de selvagens que povoam parques nacionais americanos. É uma reviravolta interessante e inesperada, e a melhor parte é perceber que guardaram isto para o penúltimo episódio, como um tiro no escuro.

Cody Fern é, provavelmente, o único ator no elenco que está ciente do tipo de performance que deve oferecer. Aaron Tveit e Tiffany Dupont dão o melhor de si para fazer com que a audiência compre o drama familiar, e Cody se apega ao humor sarcástico presente em suas falas. A reviravolta a respeito das teorias da conspiração sobre os selvagens é entregue por seu personagem que possui um sotaque australiano bem carregado e excêntrico, o que entra em contrapartida à jornada séria do casal que está em busca de seu filho perdido. Quando o guarda Stan começa com todo o diálogo expositivo, a audiência não possui escolha a não ser finalmente emergir no episódio.

Porém, a última parte de “Feral” peca bastante no que diz respeito a exposição da trama, apesar de rapidamente explicar detalhes de uma forma que sejam no mínimo interessantes. No momento em que o episódio cai num terreno maçante, algo que podemos destacar além de Cody Fern são os selvagens sendo eles mesmos. Inicialmente temos apenas relances de “algo na floresta”, comuns em qualquer filme de horror, mas, assim que os mesmos são revelados, é de se admirar o trabalho dos atores extras interpretando-os. Todos os seus designs são únicos e a cena de ação com eles, mesmo que breve, possui efeitos especiais práticos bem efetivos que torna a cena divertida de assistir.

“Feral” possui personagens com quem a audiência consegue ter empatia, uma premissa que não é tão popular, e uma história que cresce até o seu clímax com uma reviravolta macabra, sendo assim, um dos episódios mais fortes desta temporada. American Horror Stories tem sido uma viagem que, em quase todos os episódios, não sabe aproveitar o que tem de melhor a oferecer ou buscar alternativas menos óbvias para o desenrolar de suas tramas. Sempre tende a oferecer uma ótima trama ou ser um filme bobo do tipo “B”. Ryan Murphy e Brad Falchuk ocasionalmente perceberam o ponto correto entre esses dois extremos na série principal, e Manny Coto, o escritor principal deste spin-off, também conseguiu encontrar aqui o balanceamento ideal. “Feral” está longe de ser um episódio perfeito de um seriado, e várias decisões tomadas no enredo possuem falhas, mas certamente possui um refino e atenção maiores do que já vistos em episódios anteriores.

Por Gabriel Fernandes em 22 de August de 2021

"Tu fui, ego eris". Arquiteto e urbanista, ilustrador independente, colecionador de mangás e grande apreciador do gênero terror em filmes, séries e jogos.