Dois filhos, três seriados e um contrato massivo de mais de 10 milhões: na casa e no trabalho com o Poderoso Showrunner por trás de American Horror Story e Scream Queens revelando sua história torturada — e um futuro que inclui um possível musical com Gwyneth Paltrow.
Eu fui bem avisado previamente: Ryan Murphy pergunta muitas coisas.
Existem as perguntas inocentes, como a “O que você sabe?” que irá começar quase toda conversa que você tiver com ele. Você irá lutar por uma resposta apropriada até perceber que ele está apenas querendo lhe extrair fofocas. Existem as pessoas bem intensas, sobre seus medos, sua familia ou qualquer coisa que ele lhe faça revelar antes que você perceba que você está contando coisas a ele que nem seus melhores amigos sabem. E existe as perguntas mais simples, sobre o que ele espera — deseja, até — a respeito de feedback nas suas séries de TV, que agoram são três: Scream Queens na FOX, AHS: Hotel na FX e o quarto seriado antológico, American Crime Story: The People vs. O.J. Simpson. A melhor de todas, “Será se vai fazer sucesso?”
“Meu trabalho, para o bem ou mal, é sobre misturar luz com escuridão”, disse Murphy, fotografado no dia 8 de outubro no set de American Horror Story: Hotel nos estúdios da FOX, em Los Angeles.
É o começo de um dia de Outubro, e Ryan está entre o décimo e o episódio final de American Crime Story em Los Angeles quando ele me presenteou com uma coisa. Por insistir muito, eu assisti os dois primeiros episódios da série. “O que lhe chamou atenção?” ele perguntou, com a alegria de uma criança. Cuba Gooding Jr., eu lhe contei, fez um excelente O.J.. “Uhum.” E Sarah Paulson é perfeita como Marcia Clark. “O que mais? O que lhe surpreendeu?” Existe uma subjetividade na série, que eu não esperava. Até o terrível assassinato no centro da saga Simpson é interpretado de maneira contida, quase compreendida.
“Sim!” ele exclama, quase caindo de sua cadeira de diretor. “As pessoas pensam que eu sou esse tipo de P.T. Barnum, um cara bagunceiro e agitado. Eles acham que eu exagero e torno tudo teatral quando se trata de expressar emoções. Eles não acham que existe outro lado de mim, e eu continuo tentando msotrar o outro lado.” Ryan dá uma pausa, e então volta a falar: “Então, será se isso vai fazer sucesso?”
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É uma coisa peculiar de se perguntar para Ryan Murphy, 50 anos, que é a coisa mais próxima que a indústria televisiva tem de provar com um hitmaker, salvando o posto, talvez, para Shonda Rimes. Atráves da década passada e meia, ele fez uma cultura pop forte a partir de cirugiões plásticos em Nip/Tuck, alunos de ensino médio desajustados em Glee e bruxas, freiras e ninfomaníacas em American Horror Story. E nesse período, seu nome tornou-se uma marca mais famosa que algumas estrelas de suas incríveis escolhas para elencos. O showrunner, o sábio da cultura pop e provocativo, tem um dos mais ricos contrários na televisão, e um grupo de amigos leais que inclui Gwyneth Paltrow (com ele planeja criar uma dramédia musical), Julia Roberts, Jessica Lange e agora Lady Gaga. Ele já recebeu o Presidente Obama em sua casa para um movimento beneficente, e quando ele menciona seus amigos Norma, Barbra e David, ele está se referindo à Lear, Streisand e Geffen.
Nesse ponto, a presidente da Fox TV Group, Dana Walden, disse que adicionar o nome de Ryan para o marketing de uma série aumenta o número de telespectadores em 20%. John Landgraf da FX viu como as figuras no seu American Horror Story: Hotel chamaram atenção em relação ao megahit Empire com apenas duas semanas no ar. “Existe um limite de número para criadores em um filme ou TV onde se você botar o título com seu nome — se você dizer, ‘blá blá blá de Steven Spielberg‘ ou ‘blá blá blá de Marvel‘ — você terá uma resposta diferente para aquilo. E Ryan é um desses caras”, disse Landgraf.
Olhando para a vida de Ryan hoje — no auge de sua profissão, com um bom marido e duas crianças pequenas — é difícil esquecer o caminho tumultuoso que ele passou para chegar aqui. Por anos, ele esteve no meio das pessoas mais imbecis da indústria. Ele resistia a cada citação que recebia, e um pequeno tweet ou uma pequena review poderia deixá-lo bobo. “Quando eu estava começando em Hollywood, tudo era uma batalha,” ele disse, agora sentado num estúdio de três andares nos estúdios da Fox. “Meu impulso sempre me fez ser uma pessoa nervosa, que é cheio de ‘vou mostrar para eles’ e ‘tenho que mudar o mundo para que pessoas como eu não passem por isso nunca mais,’ e ainda que eu esteja menos acentuado quanto a isso, é diferente para mim agora. Eu sinto como se eu tivesse crescido tanto nos últimos anos, de uma maneira que eu jamais pensei que iria.” E então um sorriso aparece: “Você não pode ser uma criança terrível quando você tem a criança dentro de casa.”
Quem é próximo a Ryan concorda que se tornou mais maleável desde que estabilizou-se com seu marido fotógrafo, David Miller, um homem parecido com Kevin Bacon que se casou com Ryan em 2012, e já receberam dois filhos, Logan, 2 anos, e Ford, 1 ano. Para Walden, que é um amigo próximo de anos de trabalho juntos, a mudança mais notável foi a sua habilidade de se manter firme quando as coisas não estão bem. “Quando você está num papel que ele está, você tem que se relacionar com muitas pessoas, e é invitável que em algum momento alguém irá cometer algum deslize, alguém irá dizer algo ruim, alguém não cumprirá o que prometeu, e isso costumava machucar muito o Ryan,” disse a amiga. “Eu me sinto como uma mãe, ele aprendeu a aceitar as falhas humanas, e o tempo de recuperação é mais rápido agora: ele entra no processo de perda, supera e segue em frente.”
Não que isso queira dizer que suas feridas se fecharam inteiramente ou sua pele se tornou espessa. E por causa de sua natureza sem limites de muitas coisas que Ryan traz para a TV — gays, lésbicas, cenas de sexo grupal, palhaços, anões, aberrações, viciados e gêmeas siamesas — ele está sempre recebendo críticas pesadas. “Existem muitas grosserias por aí, mas ele se machuca,” disse Brad Falchuk, seu colaborador de muitos tempos com quem ele co-criou Glee, Scream Queens e American Horror Story. “As pessoas acham que ele não é sensível, que ele está acima de tudo, mas quem está acima de tudo?”
Mesmo que Ryan adore disparar perguntas, ele também sabe as responder. De fato, nada para ele sai dos limites, incluindo falar de sua infância.
Suas primeiras lembranças vem dos subúrbios de Indiana, sendo acordado no meio da noite por seu pai, um homem alto que trabalhava num jornal de notícias. “Ele me fazia sentar na mesa da cozinha enquanto ele fumava,” disse Ryan, “e então ele me dizia a mesma coisa sem parar: ‘Eu não me vejo em você, e eu quero que você me diga o motivo.’ ” Existe uma calmaria no tom da sua voz enquanto ele continua a dizer. “O que você responderia tendo 6 anos de idade?” Ele faz uma pausa. “Eu ficaria emocionado, e diria: ‘Eu não sei. Não sou atlético. Não sou grande como você. Sou pequeno e eu sou eu, não entendo o que você quer dizer.’ Mas todo ano, eu ficaria mais e mais agressivo, e terminaria dizendo: ‘Eu não quero ser você. Eu não quero morar aqui.’ ”
Aos 15 anos, o segredo de Ryan estava acabado. Sua mãe havia descoberto uma gaveta cheia de cartas de amor para o filho dela, que estava em um acampamento na época, de um namorado de 22 anos, Drew. “Eu nunca vou esquecer,” disse ele. “Eles me chamaram para casa, me fizeram sentar em frente a minha mãe. Ela me disse: ‘Eu sei sobre Drew. Eu lhe disse que se ele cruzar o seu caminho novamente vou denunciá-lo por estupro. Nós vendemos o seu carro, você está de castigo o resto do verão e vai começar a ser aconselhado amanhã.’” As últimas palavras, uma mensagem explícita de que havia algo nele que exigia reparo, o machucou bastante.
Mas fingir ser algo que não era não agradava Murphy, cuja confiança deixava as pessoas impressionadas. Sua mãe gosta dizer que ele era ambicioso desde o nascimento; ele oferece outra teoria: “o único jeito de passar pela vida que eu tive era ter um grande entusiasmo e muita determinação”, disse ele. “Eu andaria pelos corredores da escola, sendo chamado de ‘viado’, mas jamais deixaria que isso me parasse. Eu faria uma piada sobre isso, ou tornaria isso uma forma de fazer amizade com as pessoas, e então acabaria dormindo com seus namorados”. Mesmo assim, eu tinha um objetivo: “queria passar pelo ensino-médio vivo, e no meio do caminho eu pensava: por que não posso ser popular? Por que não posso ir ao baile? Por que não posso ser o presidente deste ou daquele clube?” Isso sempre foi importante para mim.
Ainda assim, Murphy queria mais da vida do que Indiana podia oferecer. Sua mãe a vó tinham veneração por estrelas de cinema e show business, e ele a muito tempo vinham fantasiando sobre um futuro em Hollywood. Depois de se formar em Jornalismo na Universidade de Indiana, ele se mudou para o oeste, onde namorou o diretor Bill Condon (Dreamgirls) por boa parte dos seus 20 anos. Murphy ganhou a vida como repórter, escrevendo artigos de cultura popular e estilo de vida para Entertainment Weekly e do Los Angeles Times, dentre outros, enquanto trabalhava em alguns roteiros, paralelamente. No final da década de 90, com a comédia romântica “Why Can’t I Be Audrey Hepburn?”, chamou a atenção de Spielberg, que comprou os direitos e quase fez o filme.
Não muito tempo depois, Murphy, com apenas 34 anos, vendeu seu primeiro programa de TV: “Popular”, uma sátira ambientada no mundo hierárquico do ensino-médio. A experiência na agora fechada WB mostrou uma lição no que Hollywood estava – ou melhor, não estava – pronta para. “Eu tinha este personagem, que usava um casaco de pele, e eu gostaria que ele aparecesse várias vezes, ‘Você poderia tirar a pele?’, ele disse. “Isso foi um código para, ‘Isso é muito gay’”. “Popular” foi cancelada após duas temporadas, e depois do piloto de uma sitcom não dar certo, Murphy ponderou vender tudo o que tinha, se mudar para Nova York e começar do zero. Então ele teve a ideia de fazer uma série baseada no universo da cirurgia plástica.
‘Nip-Tuck’ foi a primeira vez na minha carreira onde eu pensava “Fo—se! Vou escrever o que eu quero ver!”A série da FX – outra sátira, desta vez sobre a obsessão da sociedade em cirurgias plásticas – estreou em 2003. “As cenas de cirurgia da série eram tão ousadas e gráficas como as cenas de sexo”, escreveu a crítica do New York Times, Alessandra Stanley, quando a série estreou. “Um implante de nádegas, um aumento de seios e uma reconstrução facial (esculpida ao som de ‘Paint It Black’, dos Rolling Stones) são retratadas sem moderação e cinematograficamente como um “trabalho da máfia” em The Sopranos. Nip Tuck se tornaria a mais bem avaliada série de TV a cabo básico, ganharia um Globo de Ouro e estabeleceria Murphy como um dos showrunners mais influentes da sua geração.
Muitas vezes ele estava bastante ocupado lutando – com os executivos do FX, com padrões – para se deleitar com os triunfos da série. ‘’Naquela época, eu queria fazer o que eu bem entendia’’, diz ele, ‘’se você não deixou eu seguir o meu jeito, eu reagiria, ‘O que você quer dizer?’’ Com o tempo, Nip/Tuck iria ser criticada por sair dos trilhos, uma crítica que cavaria a carreira de Murphy. Em 2012, New Yorker ensaiou o subtítulo ‘’A Batida na mesma tecla de Ryan Murphy.’’ Emily Nussbaum escreveu: ‘’Ele tem sido notório na construção de ótimos pilotos, e em seguida, dirige suas obras penhasco abaixo. Personagens sendo assassinados, literal e figurativamente. Um simples piscar de olhos pode se tornar uma convulsão. ‘’ Murphy não costumava ser capaz de tolerar tais críticas. ‘’Eu ia levá-la para o lado pessoal, como, ‘por que não são todos como ele?’’, ele diz. ‘’Eu ainda sou uma criança na escola que é chamada de ‘bicha’ e que quer que a garota seja minha amiga’’.
Se Nip/Tuck atingiu a órbita do espírito do tempo, a série seguinte de Murphy, a dramédia musical da Fox, Glee, se tornaria um completo fenômeno cultural. A série sobre uma sociedade de canto colegial composta por párias começou em 2009, e na época da segunda temporada, era o segundo seriado melhor avaliado atrás apenas de Modern Family. No seu auge, a série atraía 13,5 milhões de espectadores. Havia álbuns no topo das paradas também, assim como turnês esgotadas e uma lista de participações de atores que parecia uma lista telefônica de Hollywood. Mas a franquia bilionária eventualmente caiu à terra, com problemas em frente e atrás das câmeras. “Eu olho para o elenco de Empire e tudo que acontece com eles e fico pensando, ‘Não façam isso. Mantenham-se unidos’. E eu acho que eles estão conseguindo isso de uma forma que nós nunca conseguimos”, diz Murphy, que acrescenta, “Até hoje fico devastado com tudo que aconteceu naquele seriado.”
Claro que com o passar de seis temporadas de Glee, que chegou ao fim no começo deste ano, houveram vários momentos com drama, término de relacionamentos e a morte do ator Cory Monteith causada por overdose. Tudo o que Ryan tem a dizer é sobre suas próprias repreensões sobre o papel do rapaz na série. “Eu estava lá com eles o dia todo, e quando terminávamos o trabalho nós saímos e nos divertíamos a noite inteira, e eu acho que de certa maneira, estava tentando superar a infância que eu nunca tive,” ele diz. “Eu achava que eles queria ter pais, mas não queriam. Eles não me queriam para lhes dar ordens. Eles não me queria para lhes dizer como deviam agir ou dar-lhes conselhos sobre o mundo. Eu gostaria de voltar e fazer isso de maneira diferente com muitos daqueles atores. Com alguns eu ainda sou bem próximo: Lea Michele, Chord Overstreet, Darren Criss — mas existem alguns que não deram certo, e eu me arrependo disso. Eu acho que eu deveria ter sido capaz de deixá-los perceber tudo sozinhos.”
American Horror Story é o primeiro marco na carreira de Murphy, onde ele tem sido capaz de desfrutar do próprio sucesso. O formato antológico permite em que o showrunner seja instigado em recriar histórias a cada temporada, mantém ele e sua trupe bem longe de ficar entediados. Ele tem grande prazer não só na adaptação de papéis para seu elenco de estrelas, mas também nas performances individuais. Kathy Bates foi uma mulher barbada em AHS: Freak Show, Julia Roberts uma médica em cadeira de rodas em The Normal Heart, um filme dirigido por Murphy. “É divertido pra mim os ver de olhos arregalados” ele ri. “Eles sempre começam com a mesma coisa: ‘você só pode estar brincando’. E então eu lhes digo: “Não, eu realmente acho que você pode fazer isso, porque há essa coisa sobre você que quando eu vejo, sei que outras pessoas gostarão de ver”. Sarah Paulson, cujos papéis Murphy lhes deu uma lésbica, traficante de drogas e uma gêmea siamesa, diz: “Quando você sonha em ser atriz, não acredito que você vai pensar em viver uma mulher de duas cabeças, e essa é uma das razões que amo Ryan, porque ele pensa em coisas que eu nunca poderia sonhar.”
Até agora, American Horror Story recebeu 70 indicações ao Emmy e sua audiência vem crescendo a cada temporada. No início de outubro, a quinta temporada, na qual Gaga substituiu Lange como musa de Murphy, se tornou o segundo programa mais assistido na história do FX. Murphy, que já arrumou um potencial novo papel para Gaga na sexta temporada, (“Ela está trabalhando em um álbum, e tem uma turnê, então estamos tentando combinar tudo”, disse ele) diz não se lembrar de ter descrito a si mesmo como “uma versão masculina da Lady Gaga” em uma entrevista de 2012. “Ai meu Deus, eu disse isso?”, ele lamenta, acrescentando “Eu devo ter tido isso bêbado, ou brincando”. Mas quando eu peço para que fale mais sobre a observação, Murphy sugere que ele e Gaga compartilham de uma qualidade “transformadora”. “Nós fazemos algo, nós tentamos realizar alguma coisa, nossa própria merda em nossas vidas pessoais”, ele diz, “E aí no ano seguinte nós mudamos de figurino e nos transformamos em outra pessoa”.
Gaga – que o procurou para falar da série, não o contrário – fala sobre sua conexão com Murphy com o mesmo entusiasmo digno de adoração que outras, incluindo Paltrow e Roberts, demonstraram a ela. “Ele é minha alma gêmea criativa,” diz ela. “Eu contei a ele coisas que nunca contei a ninguém, e isso acontece porque ele faz parte de algo tão íntimo, algo que não tenho com 99,9 por cento das outras pessoas com quem tenho contato, que me encontraram e não se importam em perguntar nada sobre mim; elas só querem uma fotografia”.
A maioria dos roteiristas e membros da equipe de Murphy permaneceram também furiosamente leal, também, mesmo que viver em sua sobra pode ser periodicamente desafiador, como pareceu para Dante Di Loreto, que no começo do ano foi tirado do posto de chefe da companhia de produção epônima de Murphy. Falchuk, uma das várias pessoas que estão juntos dele desde Nip/Tuck, sugere que ele é atraído não só pela visão de Murphy, mas também pela clareza que ele traz junto com ela. “Ryan não tem medo de estar errado,” diz ele, “Quando estamos trabalhando em uma história ou roteiro, e chegamos a algo que ele acredita ser o jeito certo de proceder, nós seguimos por esse caminho, nós não voltamos atrás e decisão é muito importante para TV porque não há tempo.” Outros citam a atenção de Ryan com os detalhes, sendo dedicado tanto aos elementos visuais quanto ao roteiro, ou seu destemor em apresentar coisas que não foram vistas antes. Ned Martel, um ex-jornalista que trabalha próximo de Murphy como roteirista de AHS: Hotel, compara ele a outro antigo chefe, a editora da Vogue Anna Wintour. “Os dois projeta seus parâmetros bem alto”, diz ele, “Anna não enlouqueceria, mas ela agiria desse jeito: ‘Eleve isso, não o estou vendo’, e isso é exatamente o que Ryan faz.”
Foi para Murphy que Walden e seu companheiro Gary Newman fizeram seu primeiro telefonema quando eles asseguraram o posto no top da Fox no verão de 2014. Eles o levaram para almoçar e tudo que fizeram foi implorar a ele por sua próxima grande ideia. “O mercado já estava tão competitivo,” diz Walden, “e não havia ninguém mais que eu poderia lembrar mais capaz de se destacarem na multidão com seu trabalho que Ryan Murphy.”
Junto com os colaboradores de Glee, Falchuk e Ian Brennan, Murphy criaram Scream Queens, uma comédia de horror do estilo “chiclete estourado com sangue” que pode ser reiniciada a cada temporada. Até outubro, a Fox já havia encomendado 15 episódios, permitindo que Murphy reunisse outro elenco cheio de estrelas, que inclui Jamie Lee Curtis, Emma Roberts, Ariana Grande, Nick Jonas, Abigail Breslin, Keke Palmer e a Michele de Glee. Tinha toda a pompa de um sucesso: uma ideia fresca, um gancho novelesco, uma campanha massiva de marketing e os tipos de nomes que conseguem atrair a audiência. Conforme Setembro se aproximou, as expectativas voavam alto. À meia-noite, Scream Queens se tornou e permaneceu um trending topic mundial por sete horas, com toques de Gaga, Gabourey Sibide e Katy Perry. Murphy e seus quase 750 mil seguidores no Twitter retweetaram muitas delas. Mas quando Murphy acordou na minha seguinte, a narrativa havia mudado. A série tinha seduzido apenas quatro milhões de espectadores e seu feed estava cheio de tweets sobre a performance morna da série. “Eu pensei, ‘Ok, bem, é isso,’” disse ele, “Isso e que minha carreira estava acabada de uma forma esquisita.” O chefe operacional da Fox TV, Joe Earley, deu o primeiro de seus discursos motivacionais. “Acho que fomos pegos em uma parte do nosso negócio que está mudada,” ele disse a Murphy, um ponto em que Walden insistiria quando a série viu um crescimento online e no serviço on-demand. (Depois de uma semana, o público mais que dobrou.) Logo, ela e Newman, que estavam ansiosos para proteger o ego de seu produtor de seriados mais premiado e para preservar a reputação de seu canal, lançariam em um press release. “Scream Queens é um modelo para consumo audiovisual contemporâneo”.
Se haverá dinheiro suficiente para esse modelo ainda não se sabe, mas o humor de Murphy estava melhor quando eu o vi alguns dias depois. Ele já havia convencido Walden sobre uma mais ampla segunda temporada, que teria um elenco de todas as diferentes faixas etárias. (A atual provavelmente terá quatro sobreviventes, quem ele diz que interpretarão os mesmos personagens em um novo ambiente.) “Com todos meus trabalhos, sempre leva um tempo para as pessoas apreciarem,” diz ele, recordando a mim – e talvez a si mesmo – que nem Horror Story e nem Glee foram sucessos logo que saíram do forno. “A reação vai de ‘Que diabos é isso’ para ‘Oh, eu gosto disso.’ Então, espero, dada a oportunidade, o mesmo acontecerá com Scream Queens.”
Se não acontecer, não será o primeiro tombo de Murphy. The New Normal, um espelho da trajetória dele e de Miller para com começar uma família por meio de barriga de aluguel, durou só uma temporada na NBC. “Você não sabe o que é a dor da rejeição até um seriado de TV baseado na sua vida ser cancelado,” diz ele. “Você fica, ‘O quê? Eu fui cancelado?’ Foi uma p—ta piração para mim.” E o drama hipersexual de Ryan para a HBO, feito logo depois de The Normal Heart, nunca foi além do estágio de piloto. Mas sem dúvidas a maior dor no coração veio com seu piloto de 2008 para a FX, Pretty/Handsome, centrado em um ginecologista casado procurando mudança de sexo. Joseph Fiennes estrelava junto com Blythe Danner, Robert Wagner e Carrie-Anne Moss. “Nunca tive tanta certeza de algo na minha vida porque achava que a história fosse linda, assim como acho que Transparent [da Amazon] é lindo,” diz ele. “E então recebi uma ligação de John Landgraf: ‘Não vai acontecer’”.
Quando falo do assunto com Landgraf, ele reconhece que foi uma das mais difíceis – “tanto a decisão,” diz ele, “como a ligação.” – que ele já foi obrigado a fazer no trabalho. Mas, ele sentiu que para a série funcionar criativamente, seria necessário mais nudez que um canal sustentando por propagandas como a FX poderia mostrar naquele momento. “Assim como muito do trabalho do Ryan, o seriado estava a frente do tempo – Transparent, uma década antes de Transparent existir.”
Não consigo deixar de me perguntar se Murphy assistiu a criadora Jill Soloway captura o espírito do tempo com aquela série da mesma forma que seus projetos geralmente o fazem e pensou: “Deveria ter sido eu”. Ele insiste que ele não tem esse olhar. “Eu nunca conseguiria contar aquela história tão bem quanto a Jill pois é uma história muito mais pessoal para ela,” diz ele. “Aquela não era minha história, eu acreditava nela, mas eu não tinha uma conexão pessoal com ela”. Algo semelhante aconteceu com Orange Is the New Black, diz ele, relevando como ele tinha direitos da memória de Piper Kerman antes de Jenji Kohan. “Eu apenas nunca descobriria como executar a ideia,” ele admite. “Então a oportunidade passou e ela se tornou essa coisa grandiosa”.
Quando eu chego na casa de Murphy em Beverly Hills mais tarde naquela semana, seu filho de 2 anos Logan, está amarrado apertado a seu tronco, com a cabeça encostada no peito do pai.
Mas a timidez logo cessa, e logo a criança alegre está me levando ao quarto de brinquedos. “Venha ver todos meus caminhões,” diz ele, enquanto Murphy e eu seguimos ele por sua casa espanhola colonial com sete quartos. Naturalmente, uma parede inteira do cômodo tem uma fileira de caminhões – basculantes, de bombeiro, de lixo. “Essa é a criança que meu pai gostaria de ter,” diz Murphy, com sorriso aberto enquanto assiste seu filho brincar feliz com seus brinquedos. “Eu tenho uma perspectiva do que eu gostaria de ter recebido enquanto criança,” ele me conta mais tarde. “Então me pego dizendo a eles constantemente: ‘Você é especial. Você consegue. Estou tão orgulhoso de você.’”
Murphy finalmente conquistaria a aprovação que sempre desejou de seu pai, mas não até ter 40 anos. Eu perguntou o que inspirou isso. “Eu tive sucesso,” diz ele. “Eu acho que o medo do meu pai era de que fosse morrer, seja de violência ou de Aids. Ele não sabia o que fazer ou o que sentir e eu acho que eu era uma pessoa aterrorizadora pra ele.” O pai de Murphy morreu há poucos anos, logo depois de Logan nascer. Ele diz que fez um esforço para incluir sua mãe na vida de seus filhos e que com o passar do tempo começou a perdoá-la também.
“Meus pais não são mais vilões para mim,” diz ele. “Se eu tivesse um filho de 15 aos tendo um caso com alguém de 22 anos eu faria o mesmo, senão pior. É como se minha narrativa inteira fosse revirada porque agora eu entendo. Agora que tenho filhos, tudo que eu pensava sobre minha história mudou. Então não posso mais insistir naquela história, e foi parte da p—ra da minha guerra.”
É com essa nova mentalidade que Murphy pensa no próximo estágio de sua vida. Ele fala muito sobre querer passar mais tempo com sua família, assim como sobre se tornar o tipo de mentor que ele nunca foi e muito menos teve. O último caso está ocorrendo com uma jovem escritora chamada Maggie Cohen, com quem ele e Kevin Spacey estão desenvolvendo uma versão televisiva de Sin in the Second City, um livro sobre duas irmãs que operaram um bordel no início de 1900. Ele está determinado a não ocupar a posição de Di Loreto, mas em vez disso administrar sua própria companhia, porque ele insiste que não quer uma parede sendo construída em sua volta. Na verdade, Murphy recentemente incentiva até mesmo os executivos dos mais baixos patamares a procurá-lo diretamente com ideias e retorno.
“Estou tentando,” diz ele. “Eu quero ser acessível. Minha mãe me dizia quando eu era criança: ‘Por que você é tão frio?’ Ao que eu respondia: ‘Não sou frio, sou tímido.” Mas eu acho que eu estava na defensiva o tempo todo e apenas recentemente consegui superar isso.”
Ele brinca com sua xícara de café. “Parece que quanto mais você tem sucesso, mais isolado você fica, e minha vida foi solitária por muito tempo.” Ele pausa. “Eu não quero mais ser aquela pessoa.”