Cody Fern responde as críticas da Igreja de Satã e dá detalhes sobre o fim da temporada

Cody Fern não sabia que interpretaria o Anticristo quando recebeu o papel em American Horror Story.

O ator tinha acabado de impressionar com sua performance em outra série de Ryan Murphy, The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story, e também acabado de filmar a última temporada de House of Cards, do Netflix. Dois dias antes de começar a produção da oitava temporada de AHS, Apocalypse, Fern descobriu que interpretaria mais do que um cara com “longos cabelos loiros e afinidade por capas”, ao ver o nome do personagem no roteiro: Michael Langdon.

Os telespectadores de AHS conheceram Michael Langdon na primeira temporada, Murder House. Michael era um menino de 3 anos que havia sido profetizado para ser o Anticristo, o filho do diabo que traria o fim do mundo. Sete temporadas depois, Murphy retornou para essa mitologia com a temporada crossover, que juntou Murder House e a terceira temporada, Coven, ao universo do fim do mundo. Mistério ainda cobre o personagem enquanto a temporada se aproxima do fim.

A ironia é que, para Fern, que leu o Antigo Testamento para o papel, as cenas que exploram o Satanismo – Como Michael comendo um coração após um sacrifício humano – não são as que o deixam acordado a noite. Ele acha “o conceito de religião exagerado e assustador”, dito ao The Hollywood Reporter, e que também não vê seu personagem como mau. “Não posso pensar apenas no mau,” ele diz. “Não é algo tangível para as cenas ou para o arco da história. Então eu tiro isso da cabeça.”

A seguir, em uma conversa com o THR, Fern fala sobre a criação de Michael Langdon, dá dicas do final da temporada como “satisfatória e exageradamente engraçada e trágica,” e responde sobre a verdadeira Igreja de Satã tendo uma opinião sobre seu personagem demoníaco.

THE HOLLYWOOD REPORTER: Não foi dito para você quem interpretaria em AHS até dias antes da filmagem. O que sabia sobre o personagem ao começar o primeiro episódio?

CODY FERN: Ryan [Murphy] me chamou para interpretar um personagem em Horror Story. Não é como se ele precisasse me vender isso! Mas o que ele me disse foi que eu atuaria com Sarah Paulson e Kathy Bates e isso era algo que eu realmente gostaria de fazer. Ele me disse que eu interpretaria o personagem que teria longos cabelos loiros e afinidade por capas. Ele descreveu o personagem como se fosse o protagonista, e que a personagem de Sarah – que agora eu sei que na verdade eram a Venable e a Cordelia – a antagonista. Eu tive a ideia de que ele não seria necessariamente bom, mas que seria um cara bacana. E então dois dias antes, durante a prova de figurinos, percebi que algo estava estranho. Era tudo tão sombrio e chique, como os lenços vermelhos. Eu li o primeiro roteiro mas o nome do personagem era outro. Então recebi o segundo roteiro e dois dias depois estava gravando uma cena com Sarah Paulson, o interrogatório da Venable em seu escritório – uma cena de nove páginas. (Risos.) Era tudo o que sabia.

THR: Quando percebeu que ele era Michael Langdon, o Anticristo de AHS? E qual é a pressão de se juntar a uma antologia com um personagem chave do universo?

CF: Originalmente, era um nome diferente no roteiro: Elijah Cross. Quando recebi outro roteiro com o nome Michael Langdon, soube de imediato. Os fãs são muito intensos e eu já havia ouvido falar do retorno de Michael Langdon (Risos.) Foi nessa hora que sabia no que havia me metido e no que estava prestes a entrar. Mas a pressão, o peso dos fãs sobre o retorno de Michael Langdon? Eu esqueço completamente disso pois não é algo que me ajudaria a interpretá-lo. A última vez que o vimos [no final da primeira temporada], Michael tinha 3 anos e o vimos fazer um crime [matar sua babá]. As pessoas imaginam o Michael como a essência do mau e eu não vejo isso. Não posso interpretar isso.

THR: Então como você o vê, se não de uma forma tão extrema?

CF: Eu acho que é importante, primeiramente, falar que eu entendo que há uma separação entre quem eu sou e quem é o personagem. Mas quando estou investigando o Michael ou quando estou em sua pele, eu vejo o mundo em seus olhos. Não estou vendo o mundo nos olhos de alguém malévolo ou que busca o fim do mundo. Eu vejo nos olhos de alguém que está perdido.

THR: Quando a temporada voltou no tempo para explorar mais sobre Michel, o que aprendeu ao ver a Murder House e de onde ele veio?

CF: Quando voltamos no tempo, vemos que ele é um jovem perdido, abandonado e quebrado que teve todas as pessoas na sua vida o largando. Ele não tem uma figura paterna e tem impulsos que não pode controlar, e não tem ninguém o ajudando a controlá-los. Ele está cercado de pessoas que o usam. Ele tem os bruxos querendo usar seus poderes para derrubar as bruxas, os Satanistas que querem que ele traga o fim do mundo, e as bruxas que estão usando Michael para impedir tudo isso. Como um jovem, eu o vejo como uma pessoa quebrada e abandonada que precisa de um guia. E o que vemos sobre a profecia no oitavo episódio é a ideia de que você tenta parar alguma coisa com uma ação, mas essa ação pode causar o que você tentou impedir. Cordelia queima Mead e os bruxos e, naquele momento, começa as consequências onde Michael jura – sem saber se vai conseguir conquistar – que irá matar todas as bruxas, o que os leva aos Satanistas. Então o que começou como um impulso do destino vira algo pessoal. Algo que ele quer conquistar para atacar Cordelia.

THR: Como ele mudou no momento em que se torna Langdon, a versão de seu personagem que é introduzida no começo da temporada após o fim do mundo?

CF: Quando o vemos no Abrigo 3 ele está mais velho, o vemos como alguém muito diferente. Que passou por muita coisa. Ele entende que a humanidade está perdida, como ele estava, e está tentando esconder os impulsos, como ele também estava. Eles estão mutilando, machucando e matando uns aos outros. É insustentável. E nesse momento, ele não fez algo necessariamente errado. Na sua cabeça, ele revela a maldade das pessoas. Ele os tenta e puxa seus limites para descobrir o quão longe eles estão dispostos a chegar. Se irão matar suas avós, quebrar as regras e dar maçãs envenenadas para todos, brigar e trair um ao outro para chegar ao Santuário, quem pode dizer que ele é o lado ruim de um humano? Ele está escancarando isso tudo; não criando. Não é algo que ele fez, e sim algo que revelou. Nesse lado, ele é um personagem honrado. Ele está apenas seguindo o trabalho de seu pai, que é o de levar a humanidade para a sua forma correta, em seus olhos. (Risos.)

THR: Você teve de interpretar um material obscuro como o filho do diabo. Você pesquisou sobre Satanismo ou recorreu a trabalhos fictícios de terror?

CF: Eu pesquisei muito em diferentes áreas. Comecei lendo a Bíblia. Não sou religioso, mas li a Bíblia muitos anos atrás. Então particularmente o Antigo Testamento. Não quero ofender ninguém, mas é uma leitura e tanto. É verdade que é cheio de estupro, incesto, assassinato e ódio. É um livro bem obscuro. Mas ao ler, o que ficou óbvio para mim é que pessoas o interpretam da forma que querem. E a segunda coisa mais fascinante sobre pesquisar no Antigo Testamento é que Satã só é mencionado por três vezes. Todos falam, “ele é mencionado aqui e aqui estão falão dele.” Mas só se você quiser interpretar assim. Quem é que pode dizer que não é a mão de Deus no seu livro que você atribuiu ao diabo porque você vê um trecho como ruim e um trecho como bom? Então eu achei isso muito interessante, e ajudou bastante. Eu li A Revolta de Atlas e A Nascente, de Ayn Rand. A Revolta de Atlas aparece quando você uma visão única de algo e como rapidamente você adapta aquela visão e subestima outras baseada em seus princípios e ideologias. Eu li muito; John Milton, William Blake, O Inferno de Dante. Foram meses incríveis!

THR: A Igreja de Satã, na verdade, respondeu a respeito desta temporada, denunciando como a série descreve o Anticristo e o fundador da igreja, Anton LaVey (interpretado por Carlo Rota). Você viu?

CF: Eu ouvi falar. Eu realmente não quero ofender ninguém, mas eu acho todos os tipos fundamentalismos religiosos amedrontadores. A resposta da Igreja de Satã é claramente… justificável em alguns pontos, e em outros, não. Eu acredito que toda a ideia de religião é aterradora e medonha, e não é para mim. Então, vamos fazer declarações. Escute, já tive pessoas falando “Ave, Satã” para mim nas ruas. Esta é a minha vida neste momento! Eu saí pela primeira desde que a série começou e não estava pensando no impacto que a série tinha. Eu simplesmente não consigo pensar nestas coisas. Mas tinham tantas pessoas gritando “Ave, Satã!” e aquilo foi divertido para mim, pois eu tinha ficado tão focado no lado religioso das coisas. Mas com a Igreja de Satã, a Bíblia negra é uma leitura interessante.

THR: Existiu alguma coisa que você achou difícil de lidar, por causa do material Satânico?

CF: O material satânico não foi difícil para mim porque muitas das cenas foram bastante técnicas ou imaginativas. Eu não sei como atuar se eu não estiver vindo de um lugar com autenticidade e certas cenas emotivas podem ser pequenos rasgos da minha alma. Uma destas foi uma cena na qual Constance (Jessica Lange) havia cometido suicídio e Michael a encontra na Murder House. Aquele dia foi particularmente difícil. Foi a primeira cena que eu tive com Jessica Lange — ela está morta e eu tenho que ir para um lugar muito sombrio e profundo. Estava tendo dificuldade porque estava com medo de fazer errado. É esse momento doce, bonito para Michael, e esse grande e impactante evento na vida dele. Gravamos duas vezes e Sarah [Paulson] está dirigindo o episódio e ela conversou comigo. Sarah e eu nos tornamos ótimos amigos e ela é a pessoa mais extraordinária. Ela tomou minha mão e disse, “Não tenha medo disso. Preciso que você vá lá e me entregue isto. Eu preciso que você se emocione muito.” E então ela disse, “Caso contrário. Apenas imagine que no final desta cena, se você não fizer isso, Jessica Lange talvez ache que você é um ator ruim.” (Ri.) Nós começamos a rir histericamente, pois era exatamente o meu medo naquele momento. Mas falar sobre e rir daquilo, me deixou disposto a entrar na cena e fazer de forma autentica. O segundo dia realmente difícil, para ser honesto, foi o dia que tivemos de dizer tchau quando estávamos terminando as filmagens. Obviamente, não posso dizer o que acontece, mas foi difícil pessoalmente, e para muitas pessoas nas gravações. Formamos esta pequena família e estamos juntos neste mundo lindo, e louco. Então você tem de se despedir.

THR: O penúltimo episódio ergueu uma batalha entre Langdon e as bruxas, ultimamente, as trevas contra a luz. Existe alguma esperança que Langdon termine não sendo o mal que ele nasceu para ser?

CF: Já o vimos no Posto Avançado 3. Então podemos esquecer desta esperança! (Ri.) Mas novamente, eu não acho que Langdon é mal. Uma coisa é que depois do episódio oito, nós aprendemos que ele chega ao Posto Avançado 3, e agora sabemos que Cordelia chegou lá naquele momento e o Michael apareceu para as impedir. Estamos quase neste momento e vendo como chegamos ali. O último episódio ilustrou nem tudo é sobre o apocalipse para o Michael. Ele não nasceu com a ideia de que tem de acabar com o mundo. Ele nasceu com uma compulsão, e agora a compulsão tornou-se pessoal. É isto que vamos explorar agora. E eu posso adiantar que haverá uma grande batalha. Você não pode construir este tanto de episódios para ter tudo acabando feliz para sempre! Acontecerá uma batalha, e será surpreendente. Não irá para o caminho que todos nós pensamos que irá — é a grande batalha de Ryan Murphy.

THR: Então é seguro prevermos que acontecerão mais reviravoltas?

CF: Sim. Certamente.

THR: Após terminar de gravar a temporada e incorporar Michael Langdon, como você se sente com o final de Apocalypse?

CF: Tomarei cuidado para não entregar nada. Mas ainda estou processando o final de Horror Story. Foi um período de maravilhas e magia. Atuei com Sarah Paulson, Frances Conroy, Jessica Lange, Kathy Bates e Billie Lourd. A lista continua. Todas estas pessoas são grandes amigos agora. Trabalhei 16 horas diárias e foi neste espaço criativo de um bunker subterrâneo ou então conversando com a equipe e elenco num horário insano da noite e falando de extremos. É como pisar num portal e terminar numa terra de magias e então ser removido de lá. Onde você está sentado pensando, “Foi real? Isso aconteceu?” Eu ainda estou carregando tudo que senti como Michael. Por tanto tempo eu fui este personagem que tem um propósito e está indo atrás de algo que quer, numa motivação extrema, e que está de coração partido. A única maneira para descrever é que é como se lançar para fora da atmosfera da Terra e então voltar, vagarosamente. É como uma descompressão. Demora um pouco e ainda sinto os enjoos.

THR: Você espera continuar na família de AHS — poderemos te ver em temporadas futuras?

CF: Eu espero que sim. Certamente. Não posso falar que sei o que há reservado, mas eu andaria sobre fogo por Ryan Murphy. Eu amei tanto isso. Eu acho que o final será bastante satisfatório, emocionante, divertido, trágico, e todo os tipos de coisas, e eu mal posso esperar para as pessoas assistirem. Eu adoraria voltar.

THR: No teaser do próximo episódio há uma cena que parece com a Murder House. Estaremos voltando para lá?

CF: Eu não posso confirmar e nem negar nada. Mas, aguarde. Há surpresas guardadas. Considerando que existem somente dois episódios, temos bastante surpresas vindo.

American Horror Story: Apocalypse é exibido todas as quartas-feiras às 23h00 (horário de Brasília) no FX USA, e exibido no Brasil no dia seguinte, quinta-feira, às 15h20, no FX Brasil. Para receber novidades diárias sobre American Horror Story, siga-nos também no FacebookTwitter Instagram.

Por Rafael Aragão em 06 de November de 2018

Tentei pensar em uma descrição legal. Não consegui.