Como American Horror Story retratou as minorias em suas temporadas

Vivemos um grande choque de culturas, uma espécie de passe-de-bola cultural onde cada cantinho do mundo precisa mostrar aquilo que tem de melhor e mais significativo. Nós, seres humanos, temos a necessidade de explicitar aquilo que julgamos ser relevante e, assim, mostrar ao próximo a importância daquilo que nos pertence, expondo para o comum. Qual o melhor meio de deixar explícito o diferente, o que é nosso íntimo, a nossa rotina, o nosso dom? Ora, nada melhor que aquilo que nos representa, que é nosso, porem, de livre acesso à outros. Globalizemos, enfim. Chegamos ao ponto em que o meu comum atinge o comum de outro alguém, logo isso não se torna único. Torna cada vez mais relevante, porém, em menos foco. Isso é minoria. Minorias precisam ser enxergadas.

E se resolvêssemos expor as minorias, abordá-las, bater um papo sobre elas, qual seria o melhor meio de propagação do livre pensamento e manifestação de opinião? A mídia. Sempre! Que sorte termos a mídia como aliada! American Horror Story trabalha bem isso. Mesmo não tendo como objetivo principal as minorias em suas temporadas, é possível enxergar cada uma em particular nelas. Comecemos minha análise.

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Jamie Brewer, nossa querida Pretty Girl.

Brewer é portadora de Down e seu trabalho é admirável e incontestável. Com que frequência encontramos portadores de Down na mídia senão somente para expor suas limitações? Seus diferentes números de cromossomos não tem relevância e não fazem parte do foco de sua participação em American Horror Story, o que para nós está exposto é seu imenso talento. Seja interpretando Adelaide Langdon, Nan ou Marjorie, Brewer nos ensina a valorizar, respeitar e dar credibilidade a quem tem pouco acesso e muito talento pouco reconhecido.

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Sarah Paulson; Lana Winters.

Interpretada por Paulson, Lana Winters (ou Lana Banana para os íntimos) era uma jornalista da década de 60 que precisou ser internada no sanatório em decorrência de uma reportagem não autorizada, com caráter de denúncia. Lana era homossexual. E como a temporada se passa na década de 60, homossexualidade não era um tema que se discutisse sem preconceito e/ou aversão. Temos mais uma minoria. Uma mulher homossexual. Ao final da série, enxergamos Lana bem sucedida e realizada. Mais uma vez AHS nos surpreende em não colocar o preconceito vivido no momento, e sim a luta de Lana por liberdade e decência, humanização e respeito aos pacientes do sanatório. De uma felicidade imensa que todos enxergassem a homossexualidade apenas como uma das características de alguém e que isso fosse rotineiro, bem aceito até mesmo nos dias atuais. Não sendo encarado como motivo de espanto ou repúdio.

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Angela Bassett; Marie Laveau.

Interpretada por Bassett, a personagem é espelhada em uma história real de uma cartomante de 1794 em Nova Orleans. Uma cartomante negra. Em uma época em que bruxas e feiticeiras eram temidas e abomináveis, fruto da falta de conhecimento da inquisição, que infelizmente deixou essa péssima imagem por tempos. Como retratar esse preconceito religioso juntamente ao preconceito de cor associado à escravidão? Em American Horror Story, nada melhor que colocá-la em comparação com a bruxa suprema, lhe dando assim um dos maiores status da série. Acredito que Marie Laveau é uma perfeita personagem para se falar em minorias sociais que até hoje não são bem vistas nem bem trabalhadas no cotidiano, mesmo que muito faladas no meio artístico, porém sempre associando-as ao lado obscuro e menos desejado das obras.

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Freak Show; Os “freaks”

Todo o elenco é de um valor imenso. Freak Show retrata um período real em que pessoas com limitações e diferenças genéticas não aceitas no meio social juntavam-se à trupes circenses e usavam de suas “particularidades” para ganhar a vida. Bom, se a vida lhe der limões, faça uma limonada! Minorias pode ser o sinônimo da essência de freak show. Homens com deformidades nos membros, obesidade mórbida, atrofia, aberrações genéticas, enfim. Freak Show é um leque de possibilidades. Porém, resolve-se abordar o particular de cada um, e descobrimos bravura, coragem, amor, amizade, respeito, e as piores coisas em um ser humano que é aparentemente “normal” e com os maiores privilégios que alguém pode ter na vida.

American Horror Story é uma série que surpreende. Sempre. Em elenco, em temas, em cenários e em trabalho individual de cada personagem. Pouquíssimas séries retratam minorias como AHS. Seria de um proveito imenso que a série se popularizasse a cada dia, se tornando um desses diversos seriados que todo mundo assiste e ama. Isso, no mínimo, nos faria aprender em coletivo a analisar as particularidades de cada um, refletir nas ditas “regras comportamentais” e valorizar as minorias tão pouco reconhecidas e aproveitadas.

Por Ísis Reis em 24 de March de 2015