Apesar de cenas dentro de salas de cinema serem um tanto comuns em filmes de terror, podemos considerar ser bem raro ver uma verdadeira carnificina numa sessão de cinema drive-in. De primeira mão, essa locação entrega ao episódio algo novo para a audiência poder apreciar, algo que se torna mais forte quando é combinado com a premissa de um filme proibido que se tornou uma lenda urbana por ser alegadamente amaldiçoado. E justamente a premissa de um filme amaldiçoado num cinema drive-in, unida aos temas dos princípios puritanos implantados em nossa sociedade (como a primeira experiência sexual de adolescentes) e o fator do medo e curiosidade pelo desconhecido, tornam “Drive In” um episódio distinto e nos traz mais esperança para que esta antologia seja bem sucedida.
A sensação simultânea de conforto e vulnerabilidade que um filme de terror provoca em seu público também pode ser pautada a partir de paralelos com o drama que o jovem casal protagonista enfrenta ao longo da trama. Porém, vemos que o episódio foca principalmente no que se diz a respeito da psicologia do público consumidor de filmes e a capacidade do cinema de transformar seu ambiente, seja figurativamente ou literalmente – como um filme que fisicamente desencadeia uma transformação brutal em sua audiência.
Os personagens, em grande parte adolescentes, argumentam que a única razão pela qual os filmes de terror existem é porque o medo é um fator útil para que “algo a mais” aconteça em um encontro. É um argumento um tanto falho e que faz oposição direta à linha de pensamento do personagem Larry Bitterman (John Carroll Lynch). No entanto, é motivo suficiente para todos se reunirem na exibição drive-in de “Rabbit Rabbit”. O “filme que amaldiçoa ao ser assistido” é uma alegoria consagrada, já bastante utilizada ao longo dos anos, Ringu e The Blackwell Ghost são bons exemplos da alegoria em questão. Quando é bem feito, não se parece redundante.
Sempre houve rumores de filmes ou programas que são tão assustadores ou extremos que podem causar danos físicos ao espectador, é parte do marketing que confia principalmente no boca-a-boca. Se alguém vomita, foge da frente da tela ou da sessão, e uma ambulância precisa ser chamada, o diretor atingiu a trindade do marketing para uma obra de horror. Filmes como Raw, The Exorcist e Antichrist ganharam mais atenção por causa do burburinho causado por suas respectivas audiências. Se realmente existisse um filme proibido como Rabbit Rabbit, certamente os fãs de terror mais fervorosos seriam fisgados rapidamente pelos rumores.
Notamos “Drive In” durante seu momento mais forte quando o filme amaldiçoado começa a ser exibido. Mãos de amantes esfregam-se fervorosamente nas janelas do interior de um carro, e pouco depois vemos sangue borrifando dentro dos veículos, acompanhados de uma mistura de sons de buzinas de carro abafando gritos mesclados dos sons viscerais vindos do filme sendo exibido. É uma sequência breve, mas eficaz, e nos mostra a luta dos protagonistas para fugir em um estacionamento que está lotado de carros e transeuntes em fúria. A exibição do cinema drive-in durante a luz do dia também é algo a ser elogiado ao fazer o contraste com o caos e selvageria que havia acabado de acontecer no local. É um ponto de vista que nem sempre é destacado em obras de horror.
A discussão sobre cinema e arte é retomada através da conversa sobre o custo da arte e o que constitui o sucesso de um filme de terror, quando os sobreviventes confrontam o diretor Bitterman nos minutos finais. A abordagem de tentativa e erro de para a propagação de mensagens subliminares numa obra é um assunto atrativo para um episódio se concentrar, assim como as consequências do que as ditas mensagens subliminares desencadeiam.
Rhenzy Feliz e Madison Bailey são os protagonistas deste episódio, mas, infelizmente nenhum dos dois recebe muito a se trabalhar com os personagens um tanto caricatos. Chocando um total de zero pessoas, as performances mais fortes no episódio vieram de John Carroll Lynch, veterano na franquia, e Adrienne Barbeau, famosa por seus papeis em filmes de horror. Assim, “Drive In” é uma experiência mista e curta, possui ritmo rápido e nos traz um pouco de nostalgia do universo do horror, mas ainda entretém e faz comentários a respeito do atual estado do horror em produções cinematográficas. O episódio se mostra melhor que estreia da série que possuiu duas partes, mesmo tendo suas falhas. Não é uma história inovadora, mas os easter eggs e referências a filmes e lendas urbanas nos fazem apreciar mais o conteúdo que nos foi apresentado, nos lembrando como o passado do gênero horror é tão importante quanto o seu futuro.