O começo do primeiro episódio de Death Valley entrega para a audiência exatamente o que ela espera de uma história relacionada a OVNIs. Uma trilha sonora com teremim, luzes fortes e vibrantes, coisas estranhas acontecendo com objetos eletrônicos, e, claro, cabeças explodindo. Tivemos breves analogias à essas alegorias clássicas do horror envolvendo vida extraterrestre em Asylum, mas agora esta trama esta no ponto central da história, e nossos visitantes de outro mundo não são tão benevolentes quanto aqueles que curaram a mente da Irmã Jude (Jessica Lange). Estes alienígenas, ao menos com o que já vimos, possuem fortes motivações para a sua invasão. Mais importante, eles causam uma primeiro impressão imediatamente assustadora. A cabeça do marido sendo explodida com um efeito sonoro similar ao estouro de um balão nos traz o exagero do sci-fi vindo diretamente do cinema dos anos 50. Sim, foi uma cena brutal e um tanto assustadora, mas um pouco divertida, provavelmente porque não aconteceu conosco.
Toda a premissa desse episódio caminha sob a linha tênue do exagerado e do horror, vindo de recursos cinematográficos com todas as possibilidades de iluminação e toques sonoros voltados para nos levar à era de ouro do sci-fi preto e branco, misturado com toques de realidade, como o Presidente Eisenhower (Neal McDonough) mentindo sobre sua saúde enquanto fuma sem parar, e a incrível Sarah Paulson como Mamie. A cena da autópsia do extraterrestre foi algo feito excelente maestria e nos mostra exatamente esta linha tênue, talvez esta tome inspiração de momentos do filme Alien e do anime Elfen Lied, mas continuam a ser muito bem executados. Existe um senso palpável de perigo e carnificina já presente desde os primeiros minutos do episódio, o que nos traz uma grande mudança de clima enquanto estamos recém-saídos de uma temporada onde os perigos aos poucos foram surgindo para a audiência. Se pudéssemos pensar como extraterrestres agiriam ao chegar na Terra, seria algo como o roteiro deste episódio, onde nos jogaram vários elementos e nos deixaram montar um quebra-cabeças sem instrução alguma.
O enredo de Death Valley se restringe narrativamente numa forma corajosa ao introduzir Amelia Earhart interpretada por Lily Rabe, que nos traz a figura da vida real ainda em estado de choque após ser encontrada nua, no meio do deserto. A pilota, que estava desparecida há décadas, tem seu desaparecimento atribuído a abudção alienígena em American Horror Story. Esta história traz o maior potencial dentre as outras subtramas iniciadas em Death Valley, com detalhes únicos e ainda não-explicados como as cicatrizes circulares nas costas de Amelia, que também funcionam perfeitamente como exemplos de narrativa visual. Infelizmente, a audiência é abduzida desta parte da história e levada até na direção oposta, introduzindo jovens super privilegiados que não conseguem tirar sexo dos seus tópicos de conversa. Num piscar de olhos, o horror clássico do sci-fi dos anos 50 é substituído por apelo sexual e cultura de influencers de rede social. Essa guerra constrangedora de temas termina por dividir o espaço de 40 minutos na première desta segunda parte.
É difícil não sentir um impacto quando a segunda metade de “Take Me To Your Leader” nos leva ao presente e nos introduz um grupo de caricaturas que só a equipe de Ryan Murphy poderia escrever. Todos estes novos personagens são introduzidos com um dossiê estilizado que bombardeia a audiência com detalhes a respeito de cada um, para assim o mesmos terem tempo suficiente para falar de sua vida sexual e seus fetiches. Cá entre nós, não há absolutamente nada de errado com personagens que falam sobre sexo ou são bem sexuais, ou até pessoas que se definem desta forma. Simplesmente parece ser algo extremamente brando da parte da equipe criativa de Ryan Murphy nesta altura do campeonato, e é difícil simpatizar-se com personagens quando os mesmos parecem paródias. Entretanto, mesmo que estes personagens jovens sejam frustrantes de se acompanhar, os mesmos tomam decisões inteligentes no decorrer do episódio. Eles imediatamente buscam fugir de local onde estavam acampando após reconhecerem que estariam em perigo se permanecerem.
É fácil não dar tanta atenção a momentos que nos fazem franzir a testa para a última metade de “Take Me To Your Leader“, já que o episódio anda tão rápido que ao final do mesmo os protagonistas já estão grávidos dos extraterrestres e os créditos finais começam a rolar. Uma típica temporada da série talvez levaria mais dois episódios para que algo nesse nível acontecesse. Contar a história de uma temporada nessa velocidade nem sempre é uma receita que se finaliza num bom resultado, mas contribui para episódios com bastante eventos. Será interessante ver como essa linha do tempo se conectará com a linha do tempo dos anos 50 e não será uma surpresa se cada um dos quatro episódios de Death Valley siga a estrutura de dividir o episódio entre essas duas cronologias.
Sempre que este seriado se aproxima de um sub-gênero do horror que ainda não havia sido bem explorado, a tendência do roteiro é jogar para a audiência todo o tipo de ideia — apropriada ou não — e ver qual possui mais apelo. O episódio de abertura de Death Valley faz isso com uma variada quantidade de alegorias populares em abdução de alienígenas, mas ainda assim nos levam para momentos que continuam a serem perturbadores e até mesmo novos. American Horror Story já chegou a um ponto onde é impossível prever a trajetória ou o nível de qualidade de roteiro que teremos ao final de qualquer temporada. Nesse sentido, talvez seja um tanto ingênuo dizer que “Take Me To Your Leader” é um começo promissor que deixa espaço para que a história ganhe boas reviravoltas nos próximos episódios. Red Tide teve um ótimo desempenho até o fatídico final, mas quem sabe Death Valley nos prove que quatro capítulos seja a quantidade necessária para se contar boa uma história.